domingo, 7 de abril de 2013

"Loucomotiva"


E havia o tempo que não havia mais tempo

E havia o tempo que não importava mais o tempo deixado para trás

O ócio que comprime o inconsciente sem importância

O vazio preenchido todos os dias pelo excesso de passar o tempo

A riqueza das palavras sem sentido

O amor pelo que não se conhece

E a necessidade da ignorância

Retalhos da vida

Montagem do ciclo

Só entende quem se encontra e deixa

Quem cosegue ver e para por um instante

E retorna o ciclo

Para o tempo, pare o tempo, não há mais tempo

Eu quero descer

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Das coisas que sinto falta


Sinto falta daquela música que me faz chorar, da poesia bem feita, do amor bem vivido e dos momentos tristes, mas autênticos.

Sinto falta do natural, do que é real, do que não se esconde. Prefiro a sinceridade singela à falsidade rebuscada, a faísca que queima ao morno da vida, o bem me quer ao mal me quer, e a boba felicidade ao sempre certo infeliz.

Quem dera poder mandar pra bem longe o fantasma do quase, a persistência da dúvida e o terror do medo. E ter a certeza de que o mais arriscado é não arriscar.

E antes que tolas fiquem essas palavras, espero me cercar de vida, de pessoas excêntricas, de essências malucas. A soma do ser, do aprendizado, o não a futilidade, mas o sim a simplicidade.

Embora eu saiba que o que me faz falta é efêmero, e que a falta é a busca do amanhã e depois, e depois... Espero nunca me deixar levar pelo indisposto conforto do ser que se cala diante da vida.

sexta-feira, 18 de março de 2011

Palavras


Não deixe que as palavras abafem o que se chama sentimento
E nem que o sentimento se corrompa no que se chama vaidade

Não espere segurança de nada, nem de ninguém
Pois é o mesmo que esperar mentiras de quem se ama

Estar seguro é viver numa ilusão
E de que serve essa segurança se o que se tem são apenas palavras

Palavras que se desmancham ao som da verdade
Palavras que se modificam a cada instante
Palavras que confortam mas não satisfazem

Não diga amo, ame.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Sol na Janela


O problema é esse sol na janela.


A vida segue do jeito que deveria, os acasos vão perdendo o valor, enquanto a moldura fica cada vez mais apertada.

Mas se está bem, porque simplesmente é assim que deveria ser. Só não dá pra ficar sem o ritual diário, é com ele que se encobre qualquer desejo importuno. Santo ritual.

O problema é esse sol na janela.

E lá se está, mais um dia, mais uma vez. Até a fuga é previsível, sua liberdade de mãos fechadas. Quem dera eu não ter essas palavras, quem dera eu não conseguir ver.

É a vida encaixada, é o que te conforta, é o que precisamos e buscamos todos os dias.

O problema é esse sol na janela te dizendo que pode ser mais
O problema é esse sol na janela te indicando milhões de caminhos
O problema é esse sol na janela te chamando pra viver.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Retorno


Acordou com os olhos cansados de quem já vivera muito, mas que do muito foi pouco pela insatisfação que o segue. Olhou-se no espelho como ato rotineiro, como uma verificação de que tudo estava em seu determinado lugar. Embora soubesse que do lugar que lhe cabia, nada foi possível fazer para não se separar.

O lugar de sua identidade se misturou entre as ilusões do passado, e como corte profundo sangrava em seu peito todos os dias, pela contradição da procura pelo que não mais se suporta. Com os olhos fixos no espelho parou, e dali não conseguiu mais se mover.

A poesia da vida que sempre fora música para seus ouvidos, cantava baixo, em tom melancólico, abafada pelas inúmeras dúvidas que insistiam perseguir sua mente. Talvez pudesse tirar proveito disso como sempre fez, talvez não houvesse mais tempo, ou talvez simplesmente não quisesse nada disso.

A vontade de seguir em frente foi abalada pela necessidade do retorno. Era preciso voltar. O início da escolha que seu medo não permitiu ver.

A eterna despedida de um Eu pra vida toda.

O medo do tempo, da solidão e do cansaço.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Era uma vez o amor


Amigas, mulheres, companheiras, namoradas, solteiras, divorciadas, casadas, enfim, dedico esse texto a todas vocês: mulheres.

Sabemos que desde cedo já fomos colocadas num papel de vítima, sexo frágil, alguém que algo falta e por conseqüência algo procura. Minhas caras amigas, tenho uma péssima notícia, realmente não temos tudo que gostaríamos de ter, e não, definitivamente não somos tudo que o outro procura. A grande questão é o porquê dessa obsessão em ser para alguém, e pior ser para os homens.

Há algo de muito errado aí. Algum tempo atrás não justificável, porém mais compreensível, poderia até entender uma mulher num papel de objeto que nada fala e tudo concorda, apenas se coloca na vida daquele ser masculino e completo. Talvez as mulheres da época até se perguntassem o porquê de tudo isso, até poderia aparecer uma indagação quanto a essa completude masculina. Será mesmo que esse ser que mal consegue cuidar de si próprio é tão completo assim? É dele que espero proteção e cuidado? Bom, pelo menos ele sustenta a mim e nossos filhos, tudo bem, eu me calo, melhor deixá-lo pensar que sim.

Quando se discute o papel da mulher hoje, muita coisa mudou. A verdade é que a mulher consegue se expressar mais, fazer mais por ela mesma, e se dedicar ao trabalho e suas conquistas. Mas mesmo com todas essas mudanças, ainda assim, é mais comum do que se pensa mulheres independentes e fortes caírem de amores, se sujeitarem as mais diversas formas de humilhação, tudo isso em nome do amor. Sim, o amor, o amor romântico, o amor do príncipe com o cavalo branco, o amor incondicional, enfim, o amor dos contos de fada.

Quer dizer então que todas as historinhas que nos contavam quando crianças nos impulsionaram a acreditar numa ilusão e viver a espera de algo que não existe? Por que tal crueldade? Talvez esteja na hora de mudar os contos de fada. Por que fazer alguém entrar num mundo cor-de-rosa pra depois ter que cair na realidade, e pela forma mais difícil, entre desilusões e decepções. É claro que dessa forma se aprende, e como se aprende, mas por que já não preparar as meninas para o mundo. Não estou negando o amor, e sim prezando o amor real.

Amigas, já chegamos até aqui. O caminho da independência feminina nos mostra que antes de qualquer homem, em qualquer relacionamento está você mesma. Amem intensamente, se apaixonem, vivam por inteiro, sejam sinceras, mas nunca, nunca, nunca mesmo, entreguem seu bem mais valioso a um homem, por favor, não pensem em sexo, estou falando de dignidade. Não é preciso exigir respeito de um homem quando você mesma se respeita e se valoriza. Isso já está implícito. O segredo é simples: amor próprio.

É isso meninas, as coisas não precisam ser tão complicadas. Bom, mas se você já fez papel de palhaça, já levou um bom “pé na bunda”, e já ficou se perguntando o que fez de errado, não entre em pânico. Não se apavore porque com certeza você não é a única, e é muito provável que aconteça outras vezes. O mais importante é o que você faz com isso. Aprenda com os erros, tente não insistir nas pessoas erradas, leve as decepções como experiência. Mas se não conseguir fazer nada disso, seja feliz, faça do seu jeito, não deixe de amar e se entregar. O amor vale a pena, ele só precisa ser melhor interpretado e compreendido. O verdadeiro amor está longe de ser o dos contos de fada, mas ele é muito melhor, porque ele é real e começa pelo amor próprio.

Ame muito! Mas lembre-se: ninguém merece mais seu amor do que você mesma.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Quando não me encontro


Quando não me encontro no meio de todas as regras, de todos os padrões, de todas as tendências, é quando realmente me encontro.

Não me vejo no seu olhar, e às vezes prefiro não me encontrar
Porque quando me encontro, não me reconheço, não sei descrever, não sei controlar.

Se de todo profundo é o meu ser, de todo profundo deveria ser seu olhar
Mas se ao invés de só me olhar, você realmente me ver, talvez seja impossível suportar.

Quando não me encontro é quando contigo posso estar
É no encontro com o que não é que preciso me contentar.

Não temos medo de sonhar, temos medo de acordar.