quinta-feira, 25 de junho de 2009

Escolhas


Quando o assunto é escolhas, sempre me vi com certa dificuldade. Como típica libriana, quanto menos opção melhor. É difícil analisar prós e contras de tudo, ainda mais quando se quer os dois, ou ainda, quando se quer a opção inexistente do meio termo.

Todo mundo sabe que quando temos que escolher entre duas coisas ou mais, a chance de ficar sem nenhuma é muito grande.

Lembrei de alguns episódios da minha infância. O sorvete por exemplo. Sempre ficava em dúvida quanto ao sabor, aí se escolhia o de flocos ficava pensando no de chocolate, e vice e versa. Havia dias que decidia misturar os dois sabores, mas aí não sentia o gosto nem de um, nem de outro.

Quando se faz uma escolha ela vem acompanhada de renúncias e conseqüências. E por mais pensada e analisada que sejam nossas escolhas, o pequeno e terrível “se” insiste em nos perseguir.

Se eu tivesse ido pelo caminho x, como seria... Se eu tivesse feito a escolha y, como estaria... A verdade é que não seria e nem estaria, simplesmente porque não foi. Remoer a situação não vai mudar os fatos.

Nem sempre se faz as escolhas certas, se é que elas existem. Mas se faz escolhas bem intencionadas. Não importa se mais tarde você vai olhar pra trás e pensar no “se”. O importante é acreditar e apostar em suas escolhas. O depois sempre vai existir, independente do caminho escolhido.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Entrelinhas


Remoer diálogos mal resolvidos é muito comum. Quem nunca ficou pensando em alguma conversa que teve e se deparou com o familiar: “deveria ter dito isso, ou aquilo”. Sei lá, na hora não sai. Mas depois tudo parece tão mais claro.

Quando você reconstrói o diálogo em seu pensamento, ele se transforma em um monólogo. Você não conta com a reação do outro, é você quem faz tudo. Fala, responde, replica. Fica mais tranquilo falar o que se deseja e organizar tudo o que se quer passar.

E mesmo ficando apenas em pensamento, não se pode negar o valor desse momento. É sério, às vezes você entra tanto nesse “diálogo parte dois”, que chega a acreditar que ele realmente existiu. E quem pode negar isso? Afinal, ele existiu. Na sua cabeça, pra você, mas existiu.

Falar para nós mesmos é uma forma de satisfação. Se você consegue se convencer e se satisfazer com suas ideias, fica tudo ótimo. Quando se quer compartilhar, complica um pouco, mas é possível e necessário. O que me indaga é quando você precisa falar para o outro, para o que você quer dizer se torne verdade.

Se temos nossas verdades e acreditamos nelas, o outro saber ou não é uma conseqüência. Não vejo problema em querer falar, isso só não pode ser essencial. Afinal, importa mais você saber ou o outro?

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Doce Ilusão


Se pensar e questionar rendessem dinheiro, estaria rica. Seria ótimo. Profissão: questionadora, especialista em mundo, pessoas ou algo do tipo. Mas a realidade é que não dá. Pelo contrário, às vezes até atrapalha nesse mundo competitivo.

Acredito que quem me conhece bem, ou já conversou pelo menos mais de meia hora comigo, sabe que não sou das mais práticas. Conversa vai, conversa vem e dependendo da pessoa, estamos lá refletindo porque o céu é azul.

Os meus questionamentos começaram cedo. E acredito que foram muito significantes para a escolha do curso da faculdade. Fui para Psicologia certa que iria encontrar todas as respostas que tanto procurava. Grande decepção. Chegando lá encontrei mais e mais perguntas.

Mas essas perguntas foram fundamentais para fazer minhas análises e considerações, mesmo que mutáveis, sobre meus questionamentos. E se tudo que sei, é que nada sei, devo estar no caminho certo.

Sempre me lembro do primeiro dia de aula, quando um professor chegou à sala e disse que estávamos procurando sarna pra se coçar. Que a felicidade estava no não saber, no mais simples, nos conceitos dados. Já cheguei a desejar meus “conceitos bonitinhos” de volta. Não precisava ser todos, só o do príncipe encantado já tava bom.

Mas como todas as escolhas na vida têm suas conseqüências, perdi alguns sonhos cor- de- rosa, mas em compensação ganhei outros, preto e branco mesmo. Porém, bem mais realistas e possíveis de acontecer.

O problema é que às vezes queremos nos iludir. E isso deveria ser visto como um direito do ser humano. Em alguns momentos faz bem, é saudável. Só sentir, sem pensar muito. Só falar, sem analisar por trás do discurso. Só sonhar, sem trazer para o mundo real. Enfim, só viver, sem ter que fazer algum sentido.

sábado, 6 de junho de 2009

Sombras


A autenticidade é geralmente percebida como algo almejado e admirado. Ser autêntico, ser você mesmo e não viver como uma sombra que se esconde por trás de algo ou de alguém.

Parece simples. Afinal é só ser, e isso fazemos todo dia. Mas a pergunta que coloco em questão é: quem é você?

Quando questionados a respeito de nosso ser, é comum nos remetermos ao sexo, profissão, idade, filho de tal e neto de tal. O que nos rodeia e como somos reconhecidos pelos outros, um retrato de nossa inserção no mundo em tempo e local determinado. Mas o que é isso senão um contorno de nosso ser.

Se realmente for um contorno, sabemos muito pouco ou quase nada de nós mesmos. Ou temos receio de descobrir. Vivemos a maior parte do tempo como sombras. Por trás de pessoas, de títulos, de nomes.

Acredito que o ser humano sabe que há mais nele do que se consegue perceber a primeira vista. O problema é que chegar a essa identidade exige ir além do que estamos acostumados. E ainda: qual é o propósito desse esforço? Afinal, vivemos numa sociedade onde um belo contorno, vale muito mais que o recheio.

terça-feira, 2 de junho de 2009

A Distância Necessária


Já ouvimos falar que a liberdade de alguém termina quando começa a do outro. Sim, temos um espaço que nos separa das pessoas, um espaço que nos assegura conforto e privacidade. Certo incomodo se estabelece quando essa distância é ultrapassada.

Tentamos expor só o que queremos, apenas o que não nos compromete e o que não foge do nosso esforço para manter a aparência que desejamos. É claro que isso falha. Mas a tentativa é árdua, por isso, penso não ser muito agradável quando alguém simplesmente ultrapassa essa linha.

Hoje, as pessoas aparentam cada vez mais distantes. E não só uma das outras, mas também de si próprios. Sem tempo para pensar, sem tempo para conversar, sem tempo para sonhar. Como se o mundo exigisse uma forma de ser que não deixa muito espaço para tudo isso.

E do que tentamos nos proteger tanto? Necessidade moderna de ficar sozinho e ter seu próprio espaço?

Adoro uma contradição. Ao mesmo tempo em que nosso discurso remete ao individual, o que mais acontece é a busca por reconhecimento e afeto alheio. E à medida que cresce essa evidência superficial por parte dos outros, sobra muito pouco para o nosso eu, para o nosso próprio reconhecimento.